Poesia
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
Carlos Drummond de Andrade
Poesia, a minha velha amiga...
eu entrego-lhe tudo
a que os outros não dão importância nenhuma...
a saber:
o silêncio dos velhos corredores
uma esquina
uma lua
(porque há muitas, muitas luas...)
o primeiro olhar daquela primeira namorada
que ainda ilumina, ó alma,
como uma tênue luz de lamparina,
a tua câmara de horrores.
E os grilos?
Sim, os grilos...
Os grilos são os poetas mortos.
Entrego-lhe grilos aos milhões, um lápis verde, um retrato
amarelecido, um velho ovo de costura. Os teus pecados, as
reivindicações, as explicações – menos
o dar de ombros e os risos contidos
mas
todas as lágrimas que o orgulho estancou na fonte
as explosões de cólera
o ranger dos dentes
as alegrias agudas até o grito
a dança dos ossos
Pois bem
às vezes
de tudo quanto lhe entrego, a Poesia faz uma coisa que
Parece nada tem a ver com os ingredientes mas que
Tem por isso mesmo um sabor total: ETERNAMENTE
ESSE GOSTO DE NUNCA E DE SEMPRE.
Mario Quintana
Quando vem um vento forte, elas
voam como aves, as folhas de papel,
como as folhas das árvores. Para
longe, onde não sejam lidas mais
Antes estavam uma após outra, 3,4,
5, na ordem. Agora soltas 9 agora
entre 55 outras 13 folhas voadas 20
de outras 43 mesas agora 18 as letras
7 soltas agora sobre 10 grama 62
da praça. Os pontos e as vírgulas
espalhados como grãos de areia
sobre a praia. Agora pousadas nas
calçadas, de cara para as solas dos
sapatos, nas poças,
agora estão
livres; as palavras
Arnaldo Antunes
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